segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Jogaço anunciado

O ano se aproxima do final, e jogos como este do Olímpico são cada vez mais raros. Não pelo seu desenrolar ou pela grandeza histórica dos contendores, mas porque estiveram frente a frente dois grandes times que vivem seus melhores momentos na longa e extenuante disputa por pontos corridos. Grêmio e Cruzeiro já mataram seus demônios internos, já acharam a melhor forma de jogar e não escolhem mais campo ou adversário. O Grêmio encorpou depois da chegada de Renato, ídolo absoluto e treinador corajoso. O Cruzeiro deu o bote depois espreitar os líderes durante várias rodadas, e ponteia o campeonato. Um jogaço anunciado, Grêmio e Cruzeiro.

Alexi Stival conhece o Grêmio como poucos. Como jogador, se fez ali dentro do Olímpico, um meia armador combativo, autor de alguns feitos maiúsculos da história do Tricolor da Azenha. Cuca sabia que o jogo deste domingo não era difícil apenas pela boa fase do oponente, mas porque são jogos assim que moldaram a personalidade do Grêmio e de seu torcedor, e do mito de superação que saiu do hino e virou identidade: Imortal. Por isso Cuca preparou o Cruzeiro para suportar o abafa e procurar a brecha, encontrada por Montillo, que esbarrou em Rochemback, mas riscou Fábio Santos e mandou de canhota para abrir o placar.
Segurar a vantagem até o intervalo era tudo o que o Cruzeiro queria, para dar as cartas no segundo tempo. Teria conseguido, não fosse um lampejo de Douglas, que descobriu Jonas solto na direita. O chute quase sem ângulo foi espalmado por Fábio, e Viçosa se apresentou ao torcedor gremista em grande estilo, com um gol contra o líder do campeonato no último instante do primeiro tempo.

O Grêmio tomou a iniciativa e o problema do Cruzeiro voltou a ser a busca pela brecha. Deu certo outra vez, na bola de Gilberto para Wellington Paulista, gol legítimo mal anulado. Mudaria a história do jogo? Provável, mas a história de um jogo também é a dos seus erros, sejam de atacantes ou defensores, seja da arbitragem. Melhor para o Grêmio, que achou a vitória em um pênalti cobrado duas vezes com a mesma convicção pelo artilheiro do campeonato.

A reação do Grêmio no campeonato tem dois símbolos: Renato Portaluppi, já merecendo uma declaração espontânea de valorização por parte da direção tricolor, e Jonas, o maior artilheiro do Grêmio em um campeonato brasileiro, ainda com oito rodadas pela frente. A briga por uma vaga na Libertadores já se dá no visual da tabela, sem cálculos matemáticos. O Cruzeiro também tem um ícone no banco e outro campo: Cuca, em mais um trabalho de grande destaque que deve confirmá-lo no primeiro escalão de treinadores brasileiros, e Montillo, aposta pra lá de vitoriosa. Mesmo derrotado, o Cruzeiro ainda é líder e tem jeito de campeão. Mas nesta tarde do Olímpico, foi o torcedor gremista que saiu do estádio feliz e cantando, acreditando um pouco mais no mito que ele mesmo criou, de um time azul, preto e branco, teimoso, valente e imortal.

Fonte: http://colunas.sportv.globo.com/lediocarmona/

Nenhum comentário:

Postar um comentário