Lá vai Jonas. Pressiona o zagueiro, faz uma tabela, arranca a passadas de puro sangue inglês. A confiança em cada chute faz parecer que Jonas não carrega nenhuma lembrança do tempo em que era vaiado. Deixou André Lima debaixo do gol, regulou a canhota para o chute colocado e para o míssil de longo alcance, cabeceou na trave esquerda, cabeceou na direita. Corresponde à obra de muitos atacantes ao logo de todo este campeonato. Jonas fez tudo isso em quarenta e cinco minutos.
É a segurança em forma de centroavante. Recebeu um passe pelo alto, vindo de Lúcio. A bola poderia bater em seu peito e espirrar para o zagueiro, mas ficou pingando à sua frente. Jonas não é canhoto, não estava próximo ao gol, já havia deixado o seu. O futebol protocolar que nos assola pedia que Jonas ajeitasse o corpo, retrocedesse, tocasse de lado. Mas o que tem Jonas com o futebol protocolar? A bola que pinga o faz lembrar a decisão que tomou ainda jovem, sem saber se era arte ou ofício: fazer gols. Um chute de almanaque que descreveu uma parábola, diriam os velhos locutores. Um chute que faz o torcedor pensar “daí, Jonas?”. Sim, daqui mesmo, responde o fazedor de gols, e à medida que a bola viajava o silêncio da dúvida virava o burburinho que antecede o gol, é gol?, sim, gol!, e lá vai Jonas. Lá vai Jonas, redimindo os outros que se pretendiam goleadores, de todos os times, de todas as cores. Sofre o pênalti, converte o pênalti. Há um time ao seu redor, um bom time, que está compacto, que vem de quatro vitórias seguidas, que nas mãos de Renato Portaluppi tem aproveitamento de campeão. Mas passe de longe, crônica do jogo, porque este texto é de Jonas, e por isso vê certa beleza poética no último lance da noite, do chute para fora com o goleiro driblado, como se o artilheiro dissesse que é preciso guardar gols para outras noites, outras tardes, para outros goleiros que serão driblados.
Jonas chorou. Dezessete gols no campeonato, sessenta e nove com a camisa do Grêmio, oitavo maior goleador em um clube de grandes goleadores. Logo chegará a Paulo Nunes, Loivo e Renato. Mais uma temporada e passará Osvaldo, mais outra e alcançará Baltazar. Jonas está entre os grandes, e por isso chorou: “Só eu sei o que eu passei aqui. Estou muito feliz com o meu momento aqui”. Por isso eu disse que parece, só parece que Jonas não carrega nenhuma lembrança do tempo em que era vaiado. Só ele sabe o que passou. E os goleiros vão pagar a conta. Avante, fazedor de gols.
FONTE: http://colunas.sportv.globo.com/lediocarmona/
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